quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Aniversário

Soneto

7 de Novembro de 1960

À Rosarito.

Oferecer-te-ia um disco
Mas isso é já tão vulgar!
E poderia correr o risco
De o mesmo não te agradar!
Dou-te antes e desta vez
Uma prova que não falece
Do afecto que com avidez
Cada vez mais se fortalece...
Que os nove anos que festejas
Nestes versos fiquem cantados
E neles tu sempre revejas
O amor paternal entoado
Com a pureza do sentimento
Humano mais sublimado.
Honorato Freitas
(Não resisti! Desculpem a imodéstia, mas tinha que aproveitar a proximidade do dia 7 para recordar a capacidade de amor do meu Pai.)

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Memórias de um Bancário

Revoltado com a situação em que se encontrava pois, foi reformado num escalão abaixo daquele em que tinha desempenhado funções, escreveu este desabafo. Aqui vai sem mais comentários.

Porquê?

No mais alto expoente dialético

De exaltados abrilistas declarados

As palavras inflamadas e doridas

Na defesa dos Sagrados direitos

Dos bípedes pensantes que somos

Resultam às vezes ofensivas

Desses mesmos direitos espezinhados

Antes e depois de serem.

Claro que houve uma geração que de sindicatos não viveu.

Mas essa geração produziu a matéria que hoje proporciona à actual geração o poder constitucional espontâneo.

Eis como ninguém a não ser quem por direitos inalienáveis, sindical e verticalmente falando, é esquecido nas malhas contratuais

Olhai – poderosos de antanho –

A triste figura que fizestes!

Por ventura as vítimas causadas terão sido menos que as actuais?

Teriam menos merecimentos que os luminares da actualidade?

Temos contratos verticais!

Hoje sem curvaturas espinhais não se admite que os gestores responsáveis se esqueçam...Ai deles,

De cumprirem o estipulado no Anexo Segundo, de aplicável percentual ao Anexo VI... Mas alto aí!

Quanto ao número cinco e o número seis da cláusula centésima trigésima quarta cuidado! Isso é só para «os depois» esqueçam «os antes» para nosso gozo.

Esses fósseis que continuem a aguentar dificuldades.

Já estão habituados!

Mas para mostrar quanto somos magnânimos vai esta cláusula:

- Para os que tiveram inspiração quase profética e vieram embora tardiamente para a Banca

- Oferecer-lhes contagem de tempo não prestado, embora, à causa, mas prestado ao Estado... Para efeitos de reforma especial.

- Brindemos esses novos colegas contando-lhe mais Dez... Vinte e vai: centésima trigésima nona (A “nona” é uma fruta apetecível.).

- E esta cláusula é justa. É sim senhor!

- Quanto aos esquecidos da outra, esquecidos sejam por esta nobilíssima, apoupadissima geração não bancária.

Assim seja e se faça para que aprendam de futuro a não ter arreganhos, vaidade!

Lisboa, 1983 – Memórias de um bancário!...

(Calmatites)

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Revolução.

Este poema revela o desconsolo de quem viu os ideais traídos. Leiam sem preconceitos e sem ilacções.

Revolução

Era uma vez uma nação

Que prosperava a olhos vistos!

Veio depois uma Revolução

Com partidos ditos mistos.

Com ordens mais que insensatas

Ficaram cegos e assanhados

Tornaram-se assim “vira-latas”

Sob a capa de iluminados!

Preguiçosos por natureza

Fizeram provisoriamente

Com definitiva esperteza

Descolonizar muita gente

Moveram-se Armadas Forças

Que outros desarmaram por bem...

Apressados como corças

Numa Homérica retornagem

Nasceu uma onda furiosa

E que – quais ginetes sem freios –

Formaram corrente chulosa

Ocupando os bens alheios...!

Os feitores de golpe estatal

Esfregaram as níveas mãos

E no seu foro intestinal

Sorriam... Bons cidadãos!

É tão fácil destruir tanto

Que nem vale a pena dar tempo

Valores de irmãos, entretanto...

É apenas um contratempo!

Mas isso de sentimentalões

Estrangeiros hão-de resolver

Com uma ponte de aviões

Para cá alguns vão trazer...

Salvam-se assim as aparências

De que tudo se faz e bem

Sem ser preciso competências

Abandonar é que convém!

Para a sonhada sociedade

Que nasceria de sintético

Parto-sem-dor... Calamidade!

Adveio aborto mui tétrico.

Tudo em nome do “nosso povo”

Bode expiatório propício

Ao excentrismo de Moscovo

Por seu “líder”, por seu Fenício.

Os rubros cravos suavizantes

Emurcheceram bem depressa

Devido aos bafos escaldantes

Para ser cumprida a promessa.

Termino esta sucinta história

Esperando que bom-senso

Ganhe com lucros a vitória,

Pois o sofrimento é intenso.

(Calmatites)

Lisboa, Janeiro de 1976.

terça-feira, 31 de julho de 2007

JUSTIÇA SOCIAL

JUSTIÇA SOCIAL…

Só como introdução, sem tentar dar a imagem de descrição de um drama, começo por dizer que em 18 de Abril de 2005 fiquei sem o meu marido vítima de sepsia adquirida em internamento na Unidade de Queimados do Hospital de Santa Maria. Sou professora do Quadro de Escola desde 1988, por isso mesmo funcionária do Estado Português. No final de 2006 foi-me solicitado preencher um documento para actualização de dados, em que, como é lógico, tive de alterar o meu estado civil de casada para viúva. Em resultado dessa actualização de dados passei a pagar, em 2007, mais 130 Euros por mês para o desconto do IRS, pois solteiros, divorciados e viúvos encontram-se no mesmo escalão do IRS e descontam mais do que os casados. Sinceramente, não percebo a lógica da situação fiscal. Senti-me como se estivesse a ser castigada pelo facto de ter ficado viúva. Como se houvesse possibilidade de escolha!!!

Enfim, surge a altura em que declaramos rendimentos e despesas às Finanças e, como consequência vou ter que pagar ao Fisco, para além de todos os descontos e despesas de 2006, mais 900 Euros, porque em 2006 o meu patrão não actualizou dados e não me foram descontados os tais 130 Euros por mês para o IRS.

Senhor Primeiro Ministro, Senhor Ministro das Finanças, Senhora Ministra da Educação: estão a divertir-se à custa de quem trabalha e tem a infelicidade de perder o cônjuge?

Porque é que os viúvos, na função pública, são tratados como se tivesse sido escolha sua a perda que sofreram?

Isto é justiça social?

Já para não falar do facto de os Atestados Médicos que me vi obrigada, por motivos de saúde óbvios, a utilizar após o falecimento do meu marido me terem penalizado no concurso para Professora Titular pois, as faltas dadas por doença, foram pontuadas negativamente. Toda esta situação não se compadece com o facto, de todos sabido, dos congelamentos na progressão na Carreira e da consequente perda de poder de compra.

Ao chegar a este momento dei comigo a pensar que é pena não possuir a veia poética do meu Pai para ser capaz de ironizar. Resolvi então procurar nos seus escritos algo que se pudesse adaptar e encontrei…

Nunca mais

Volvidos trinta e tal anos de andanças

Pela Banca não rota ainda do País

Ousei esquecer créditos por livranças

E outros mais que são da causa raiz.

Embora possam julgar ser lívida

Esta peroração assonetada

Vejam quão substancial é a dívida

Que talvez nunca mais será saldada.

Por isso é que nem com cheques cobertos

Letras a curto prazo e descontadas

Créditos ordenados ou abertos

Jamais poderão vir a ser saciadas

As “parti-ganâncias” qu’andam por’i

Corneto p’ra mim – corneto p’ra ti.

(H. F.)

Sem data

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Programa “Música e não só” da Rádio Renascença

Postal

Sentei-me à mesa do Bar

Com este postal à frente

P’ró Santo António ditar

O que quer dele esta gente

Santo António pensativo

Fez-me a sua confidência:

Nada é mais cansativo

Qu’uma injusta exigência.

Santo António é assim.

Prometeu para mui breve

Um suculento festim

Prós maquinistas em greve!

24 de Junho de 1981

Honorato Gonçalves Henriques de Freitas

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Para ti Amália

Para ti Amália

Uma torrente amena

De saudade m’invade

É por causa da melena

Que não tenho vaidade

Amália não t’abatas

Não vergues o teu dorso

A vida e voz sem datas

Serão d’Amália sem esforço

O valor desta escrita

Só o será cantado

Por sua voz infinita

De som nunca igualado.

Aceite deste anónimo

Admirador que é teu

E se isto é sinónimo

D’amor – eu sou Romeu!

(Calmatites)

(Homenagem a Amália Rodrigues, sem data).

quinta-feira, 10 de maio de 2007

O MEU FADO

para Coimbra.

Coimbra cantou e com virilidade

A sua castiça canção – o fado.

Fê-lo com toda a verticalidade

E com o melhor que se tem marcado.

Coimbra não vai, ao sabor da voga.

Coimbra não quer parecer, quer sê-lo

Consciente quando quer e se arroga –

Canto sério, viril, sabe fazê-lo!

As assobiadelas e as vaiadas

Nada puderam contra a seriedade

Firmeza e beleza das ‘baladas’

Entoadas com brilho e à-vontade!

E as guitarradas, senhores, que timbres!

Que divinais acordes nos beijaram

Aquelas notas que soaram tão firmes,

Com que empolgamento as dedilharam!

Não fiquem por aí – sois a Nação

Equilíbrio num porvir tenebroso

Cintilar do farol ao Guia ansioso!

Continuai a ser uma lição!

(Calmatites)

Lisboa, Junho de 1978.

O DILÚVIO

Reza a Bíblia que Deus inspirou o Patriarca Noé para construir a Arca que salvaria e mesmo salvou os casais de animais que iam constituir a sobrevivência das espécies diversas quando acontecesse o Grande Dilúvio! E assim fez e procurou as dispersas alimárias e calafetou o “tugúrio” que durante noites e dias intermináveis foi morada ultra-social neste planeta. Mas o que foi o dilúvio...? O resultado do mais potente, majestoso estrondo jamais acontecido no globo terráqueo e de que a formação rochosa da serra da Chela, rica de urânio, foi causadora, manipulada por uma civilização que não deixou rasto...No local.

A explosão atómica feita sem a técnica actual deu-se quando os continentes actuais eram apenas, massas continentais e mais ou menos unidas. E aconteceu, numa imensa região que se formou sob montanhas tão elevadas como as suas antípodas do Nepal e do Everest e, oferecia aparente segurança a homens e animais e estendia-se por uma área vastíssima desde a Umbia ao Brusco e resultado de muitos anos de erosão – a formação de estalactites. Os laboratórios de energia nuclear situavam-se mais ou menos ao centro daquela clareira que admirávamos quando visitávamos a Tundavala. Ninguém pensaria que naquela baixa, tinham existido milhões de toneladas geológicas com alturas que variavam entre os 5 e os 7.000 metros de altura e que durante muitos séculos, devido a ser uma região muito chuvosa, correram outros milhões de litros de água corrente que deram origem às ainda hoje existentes cataratas do Mendonça, que as descobriu, e às bacias do Lubango e aos rios da Humpata com nascentes nas Neves e no Bimbe e no Tchihingue! Sobeja hoje o rio Nene que banha a velha vila da Chibia! E o rio Curoca e o subterrâneo que origina as já célebres furnas de Santo António que, periodicamente, rebentam e inundam a cidade de Moçâmedes. De resto, aqueles escavados morros de onde sobressai o “morro maluco”, são resultado das aluviões que das montanhas atrás referidas, com fúria incontida, escorriam e recuavam, de mistura com marés tempestuosas, provocando a desertificação, conhecida por Namíbia...

A explosão aconteceu aí e a sua potência superou as de hidrogénio, precisamente porque os “químicos” desse tempo não souberam controlar a potência da mesma. Foi de tal ordem que além do seu expansionismo, causou um enorme vácuo que suspendeu na área da atracção-nula, milhões de litros de vapor de água de mistura com grandiosas massas sólidas – a crosta sólida da terra em que se incluía a Atlântida foi arreganhada com fúria, a parte mais plana foi rebatida e invadida pelas salsas ondas de outras zonas – fazendo surgir elevações e desaparecer outras! E naquele vácuo fantástico andou a Ilha de Páscoa que uma civilização paralela, mas de outra índole, construiria sobre a montanha mais alta da Chela! E nesse passeio fantástico andaram homens e animais, qual imenso remoinho, mais tarde semeados em vários outros pontos da terra, onde por força de exigência de adaptação e de sobrevivência tomaram hábitos e até pigmentação e formas diferentes...!

Ora, se me acompanharam nesta descrição apressada do que foi a mais violenta reação química de todos os tempos na terra, não vos será difícil concluir que o dilúvio aconteceu mesmo, porque toda a atmosfera/estratosfera estava saturada de gotas de água em suspensão durante (40 dias e 40 noites) muito tempo.

Daí o facto notório de os continentes se encontrarem mais concentrados no hemisfério norte e mais dispersos no sul – devido à força centrífuga afastaram-se, dividiram-se, com tendência para se comprimirem no hemisfério norte.

A submersão da Atlântida pode explicar-se por uma implosão – contraste ou rebaixamento consequente...!

Calmatites (texto sem data).

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Calmatites

Continuando a falar sobre o meu Pai, quero informar que os poemas e textos assinados com o pseudónimo «Calmatites», são de sua autoria. Esta alcunha foi devida à sua forma de estar na vida, que primava pela calma e tentativa de resolução de qualquer problema que lhe surgisse através do uso da palavra. Palavra que nunca lhe faltava graças à capacidade de diálogo e à fluidez de discurso que possuia. Mesmo que o sangue lhe fervesse nas veias e os punhos se contraissem com vontade de resolver a situação com um murro bem empregue, era através do verbo que a encontrava soluções. Quem o conheceu recorda esta faceta do seu carácter, considerando-a a marca da sua personalidade que, juntamente com as suas piadas, deixou marcas fortes nos seus familiares e amigos. (A foto adicionada é do antigo Liceu Diogo Cão, no Lubango, Angola, onde estudou o meu pai, eu e o meu irmão Zé.)

Tentativa

Tentativa

Ah como desejava vencer aquele medo!

Aquela covardia de lhe confessar

Com naturalidade o meu grande segredo!

Hoje, vou esperá-la, fazer-me encontrado.

E lanço um – Viva! Bons olhos a vejam flor!

...E ela veio, olhou-me e eu espantado,

Deixei-a passar acometido de torpor.

Ah! Com mil bombas a deflagrar de hidrogénio

Isto já ia no décimo quinto dia

O sangue borbulhava, a alma esfrangalhava...

De nada servia aquele rasgo de génio

Que na intimidade se me acudia

Divinizadas frases qu’ela m’inspirava.

Calmatites (soneto sem data)

sexta-feira, 27 de abril de 2007

FUTEBOL AMIGÁVEL

FUTEBOL AMIGÁVEL

Relato os pontapés e os furos

Que se deram e fizeram entre si

Os vinte e tal “soltos” e “atados” duros

No campo oficial do Victória Daqui.

Foi no histórico – a partir d’agora

Pretérito desde ontem de Dezembro

Falecido Domingo que já hoje se chora

Pelas quinze e vinte horas, como lembro.

O feito assinala-se: Ausência de chuva

Algumas nuvens no firmamento

Porém a expectativa não se turva

E em campo se vê um ou outro elemento

De repente soa um silvo cristalino

Vinte e cinco rostos pensativos

Se postam em sentido repentino

Outro silvo e eis todos activos

Há fotos e troca de impressões

Bem como incertos arremessos

Não há vaticínios, não tiram conclusões.

Correndo o esférico pelos toques impressos.

O capitão do team dos casados

Recebe de gentil senhorinha

Um ramo envolto nos frizados

De suculenta folha de couve “tronchinha”

Audazes e valentes os adversários

Postos em movimento, logo se aferram.

Ao jogo quais antigos corsários

Em assalto destemido, a bola enterram

No campo alheio em duro castigo

Procurando atravessar os fundos do inimigo.

VII

Pois quarto tento de Bentubo Lima

Faz que na primeira parte ganhe

A equipa dos casados – por cima

E uma salva de palmas ainda apanhe

Como corôa de merecidos feitos

Fazendo “alevantar” os magros peitos.

VIII

Mereceram honras de comportamento

Pela actividade desenvolvida

Doutor Ferreira, Capitão Ribeiro, Sargento,

Cujo nome de Matos lhe dá vida

E outros heróis mal conhecidos

Dos assistentes pouco sabidos.

IX

Outros portentos foram e actuaram

Com brilho, denodo e bravura

Almeida e Brandão como notaram

E também Arruda, estiveram à altura

Do rijo combate disputado

Naquele campo semi-relvado.

X

Os últimos quarenta e cinco minutos

Foram de mais brilho para a solteirada

Que não tendo visto da luta os frutos

Voltavam à lide bastante desanimada.

Os êxitos dão aquela doce leveza

Que fez os casados deixar a defesa.

I

Assim avultam em fervor combativo

Alexandrino, Domingues e Sargento,

Dianteiros casados de antigo cultivo

Que ao redondo deram bom andamento

Coadjuvados pelos médios Ferreiras,

Ribeiro, Pedro Gomes, outras barreiras.

II

Corte Real em veloz retardador intercepta

Ataques não menos velozes de Ceguinho,

Portocarrero e José Luiz, qual asceta

Conjurando males do Zé-Povinho

Garantindo assim a integridade

Do reduto à sua responsabilidade.

III

Numa arrancada de peso bem medido

Tenente Correia mete o primeiro tento

Cunha defesa dos Solteiros batido -

mas não convencido, fica bem atento.

Porém contra ingentes investidas sofridas

Não há fraquezas que não sejam consentidas.

IV

Dos Casados o guardião rejubila

Por seguro se sentir no posto seu

E não pensa que a Bola – qual Sibila

Tentadora – a todo o Poder cedeu

E mais confiante se mostra o “Fino”

Quando outro golo marcou Alexandrino.

V

Amarelos sorrisos desfecham os solteiros

Quando Alferes Ferreira outra bola metera

Pedro Gomes cede a vez que tivera

A alguém cujo nome não nos ocorre

E redobra de alma a peleja que decorre.

VI

E então entram novos valores

Que mantém dos casados o prestígio

Bem como dos solteiros os rubores

Pelo desaire que lhes dá o litígio

Se bem que não é caso de foguetear

Os casados começam a alardear.

XI

Por quatro golos já ganhavam

Os casados de justiça havida

Contra zero que ainda marcavam

Os solteiros – Ah! Pai da vida!

Quando se deu violenta reação

Por discutido “córner” em marcação.

XII

Foi tal o abuso de confiança

Que segundo tento foi nascido

Dum penalty, sem esperança

Duma mão-madrasta parido

E apesar do quinto furo marcado

O team solteiro empatou com o casado.

XIII

Aos não cantados directamente

Como bom amigo aconselho bem

Que nunca se entristeça a gente

Com as alegrias dos Ninguém

Basta para não ficar entristecido

Lembrar-se do Soldado Desconhecido.

Silva Porto, 15/12/1958.

H. de Freitas

(Relator contratado verbalmente)

terça-feira, 17 de abril de 2007

Memórias de um Bancário

(Os personagens são fictícios, embora, os factos sejam reais. Abrange os anos lectivos de 1935/1936 até 1938/1939).

Para mim e para todos os ferrugentos, nados e criados em Angola, o achar um emprego, era uma autêntica fortuna. Um rebuçado que poucos tinham a sorte de chupar.

E, ir além da 4ª classe primária, até aos anos de 1940, era obra para gigantes das classes humildes – trabalhadores braçais, agricultores –. Ou eram isso mesmo ou não eram nada.

Embora me esteja a cingir a factos que decorreram nas Colónias Portuguesas, devo, em abono de elementar justiça, informar os possíveis leitores de que a distinção de classes e o apuramento de elites sociais, não eram coisa peculiar dos portugueses. Tratava-se sim dum imperativo das “consciências da época”. Era assim em Portugal e era também na Suécia, etc. etc.

Até àquele ano longínquo 1935, mercê de homens ilustrados idos para a Huíla (Lubango) e até residentes, civis e militares – patriotas ardentes e dedicados, até ao sacrifício das mais caras regalias, começaram a despontar Escolas Primárias, de Artes e Ofícios e até Escola Primária Superior, oficialmente criadas e dotadas. As Artes e Ofícios (também chamadas laicas) destinavam-se, essencialmente, à instrução e aprendizagem de ofícios de arte comum: alfaiates, carpinteiros, serralheiros, mecânicos, etc., para órfãos e para todos os naturais que o desejassem sem quaisquer encargos para as suas bolsas.

Estas escolas laicas estavam providas de docentes excepcionalmente conhecedores e dedicados. Ensinavam quanto podiam e sabiam. E muitos milhares de operários negros e chefes de oficina delas saíram e se lançaram com êxito na vida. Porém, as Missões Católicas, também prepararam centenas e centenas, porque a sua acção vinha já de dezenas de anos antes e com vantagem, visto ministrarem conjuntamente a Religião.

As Missões laicas ou Escolas laicas foram uma tentativa para substituírem as Missões Religiosas que, entretanto, começaram a ser, também, Protestantes - Evangélicas, Adventistas e Sabatistas.

Apesar da existência da Igreja Católica ser mais antiga e, embora o ecumenismo não fosse coisa prevista, é de realçar o civismo que caracterizou ao longo de tantos anos a coexistência pacífica das seitas religiosas... naquele ultramar...

A acção missionária era heroicamente trabalhosa e poucos portugueses, mesmo os de lá, se aperceberam disso. Há santos que talvez nunca sejam canonizados, que morreram devido a terem ido, tão cheios de espírito de entrega que, desde que chegaram, nunca mais deram uma única hora de descanso ao corpo.

Pessoalmente, conheci um, de nacionalidade francesa, Padre Florêncio. Com pouco mais de 23 anos lançou-se através das montanhas da Chela, às senzalas mais recônditas, arrastando as vestes paramentais e o viático sobre uma bicicleta, passando longos dias e noites sem regressar à Missão. Tentava abarcar e ganhar todas as almas ao mesmo tempo dos Muilas e dos Mucubais. Não resistiu a tanto fogo interior e lá ficou no cemitério da Missão. Para muitos terá sido um simples vulto que perpassou. Para mim foi um exemplo de humildade e de entrega impressionante, indelével. Sem que para isso tenha feito qualquer esforço, influenciou-me a pontos de lhe dever a possibilidade de estar a trazer à luz toda a minha obscura existência de profissional, pois aos 12 anos, depois do exame de admissão, pedi permissão ao meu Pai para ir aprender uma profissão e, como as possibilidades paternas eram muito anémicas e a Missão Católica do Tchivinguiro possuía, para os filhos dos negros da região, oficinas de aprendizagem de alfaiataria, sapataria, serralharia eu iria escolher e trabalhar numa delas. Foi então, que o bom Padre Florêncio me emprestou um livro para eu ler. Li-o em uma semana. Era volumoso. Quando lho devolvi e lhe referi algumas passagens do mesmo, disse-me apenas: “Vais continuar a estudar”.

Fui então transferido para a Missão da Huíla e até comecei a freqüentar, já por conta da Missão, uma Escola Preparatória para o Ensino Secundário. Já com 14 anos de idade fui submetido a provas e passei para o 3º ano com uma boa classificação em Latim, História e Português. Mas este estabelecimento não dava equivalência ao Ensino Oficial.

Entretanto, a fuga da Missão de dois alunos e o isolamento dos restantes, incluindo-me, modificou o curso da minha vida...

(O relato fica por aqui e deve ter sido escrito já nos anos oitenta).

domingo, 15 de abril de 2007

Um Natal dos Anos 25

Lá onde nasci o Natal não é branco! É antes verde; mas um verde muito variado e muito atraente!

Quando a seca acontece e, infelizmente, é um facto periódico, cíclico, mas sem datas certas, é que o verde matizado com algumas flores de côr rósea e branca, se torna menos verde, mas não menos agradável! E, em alternativa daquilo que falta ao campo e à floresta, em muitas casas surgem searas miniaturais em pequenos vasos – tijolos ou malgas de barro – com um viço próprio.

Naquele dia de férias, de felicidade e de esperança, o sol nasceu radioso e foi subindo num céu excepcionalmente límpido, puro, com uma profundidade azulínea que prendia!

Cerca do meio-dia, uma sombra leve emerge lá longe do poente e começa a multiplicar-se, a expandir-se, a engrossar com uma rapidez inaudita. Em poucos minutos o tecto celestial baixou e fez escurecer crescentemente o ambiente! De repente, raios de luz vivíssima cortaram a negritude das nuvens que evoluíam, enrolando-se, distendendo-se silenciosa, mas assustadoramente! A trovoada que, primeiro se ouvia ao longe, rebentava, agora, sobre as nossas cabeças como se fossem canhões de grosso calibre!

Aterrados, os miúdos, rodeamos a nossa Mãe, também muito apreensiva com aquela ameaça real. – Vão para cima da cama, disse minha Mãe, - e cobriu-nos até meio corpo com um cobertor de papa – e rezem!... Por esta altura, ninguém se podia fazer ouvir, tal o banzé que a chuva fazia a bater no zinco da casa que era de adobe! Ruído aumentado cada vez que sucedia uma rajada de vento! Eram autênticas pedradas e só se percebia que trovejava por, de vez em quando, estremecer a casa e o chão...

“Após a tempestade vem a bonança”

Este temporal durou cerca de meia hora! Ainda atordoados, corremos para o terreiro. Um som surdo e suave descia pela encosta do monte sobranceiro à casa e o característico som de água corrente pelos socalcos de terreno dava-nos a impressão de tudo estar a descontrair-se!

Mas o espectáculo mais impressionante desenhava-se por todo o lado e, mais saliente em volta da nossa velha e resistente casa do campo – O Tchaiombo. ([1]) Montes e montes de gelo envolviam as paredes exteriores, o que explicava as mossas e rombos que o zinco sofreu! Logo começamos a explorar o gáudio que oferecia à nossa irrequieta imaginação aquela dádiva da natureza! Brincamos com um elemento natural até aí desconhecido! Evidente é que já tínhamos conhecimento do que era o granizo. O que nunca tínhamos visto foi em tanta quantidade!

Para a criançada foi uma autêntica festa de Natal como nunca mais tivemos! Porém, o reverso da medalha: o resultado sobre a flora, a fauna e as culturas em geral foi simplesmente aterrador! Árvores de grande porte caídas e arrancadas pelas raízes; outras completamente desfolhadas ou queimadas pelas faíscas, algumas caídas muito perto da casa!... Galinhas que não tiveram tempo de entrar no galinheiro; pombas, rolas e coelhos adultos e muitos outros animais domésticos, morreram!

Felizmente, não houve casos mortais entre nós e a população indígena que vivia a pouca distância. Procuramos saber de todos e, a não ser o aspecto acinzentado com que nos aparecia um ou outro menos conformado com o acontecido, estavam todos de boa saúde.

Não ornávamos árvores, nem tínhamos iluminação eléctrica, nem brinquedos sofisticados como hoje existem! Apenas um modesto presépio com as figuras essenciais e presentes ao sabor das habilidades de cada um, artesanais. O resto dos enfeites eram vasinhos com trigo, milho, centeio e frutas do tempo.

Honorato Gonçalves Henriques de Freitas

Lisboa, 21/11/1990.


[1] Casa grande, no dialecto da Huíla.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

A PERA DA MÃE

(Uma brincadeira poética)

Era amarelinha e tinha sido provada

Antes de mim por um insecto gulosíssimo

E embora ninguém soubesse reservada

Para ser da mãezinha manjar finíssimo.

Era uma pêra especial

E quem a comeu logo

Foi o Pai que por sinal

Até ia ficando com gôgo.

...

Honorato Gonçalves Henriques de Freitas

quarta-feira, 11 de abril de 2007

QUERIDOS FILHOS

As dores físicas não são as maiores!

Quem as provoca, por Amor, sofre mais!

Quem perdoa é mais forte, se for sem rancores

E sem recalcamentos incondicionais.

¥

Essas feridas que tendes no peito, duras

Se as considerarem à luz do Amor

Verão nelas, não o opróbrio, mas ternuras

Não umas nódoas: mas uma bela flor.

¥

E se nestes breves momentos da vida,

Não souberem colhê-la... é uma pena!

Deixarão rasgar a ténue teia tecida.

¥

Pela humana condição que nos acena

Frágil, quebradiça e até pervertida

A pontos de uma acção irreflectida.

Lisboa, Julho de 1985.

Honorato Freitas

terça-feira, 10 de abril de 2007

DEDICAÇÃO

(À minha mulher 40º aniversário)
Lisboa, Dezembro de 1990।
Poemeto Na nossa vida, Querida! Houve uma linha indelével avivada a cada momento pelo passado carcereiro! Mas ... sem passado não há vida nem vida sem passado... Essa linha-traço mantém-se a unir o que de outra forma era impossível aceitar; a amena, suave, tranquila harmonia com que se vão repetindo nossos dias com aquele traço a que chamarei de Amor।

sábado, 17 de março de 2007

Nascido a 22 de Dezembro de 1917, o 11º filho duma ninhada de 14, na propriedade do Tchaiombo, Humpata, Huíla em Angola.
Honorato Gonçalves Henriques de Freitas, Pai saudoso de três filhos: Maria do Rosário, José Joaquim e Carlos Guilherme, todos com o sobrenome «Serrado de Freitas». Estatura mediana, musculado, dotado de grande força física mas, maior força mental, criativo, com excelente sentido de humor e capaz de uma retórica fluente. Sempre pronto para o convívio fez parte de um grupo de estudantes do Liceu nacional Diogo Cão (assim chamado antes da Independência de Angola) que fundou um reino de fantasia, composto pela realeza, clero e plebe! Esse Reino ainda hoje existente chama-se Reino de Maconge. E é desse Reino de fantasia, amizade e camaradagem que surge o título de Duque das Piadas Chatas.