quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Aniversário
7 de Novembro de 1960
À Rosarito.
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Memórias de um Bancário
Porquê?
No mais alto expoente dialético
De exaltados abrilistas declarados
As palavras inflamadas e doridas
Na defesa dos Sagrados direitos
Dos bípedes pensantes que somos
Resultam às vezes ofensivas
Desses mesmos direitos espezinhados
Antes e depois de serem.
Claro que houve uma geração que de sindicatos não viveu.
Mas essa geração produziu a matéria que hoje proporciona à actual geração o poder constitucional espontâneo.
Eis como ninguém a não ser quem por direitos inalienáveis, sindical e verticalmente falando, é esquecido nas malhas contratuais
Olhai – poderosos de antanho –
A triste figura que fizestes!
Por ventura as vítimas causadas terão sido menos que as actuais?
Teriam menos merecimentos que os luminares da actualidade?
Temos contratos verticais!
Hoje sem curvaturas espinhais não se admite que os gestores responsáveis se esqueçam...Ai deles,
De cumprirem o estipulado no Anexo Segundo, de aplicável percentual ao Anexo VI... Mas alto aí!
Quanto ao número cinco e o número seis da cláusula centésima trigésima quarta cuidado! Isso é só para «os depois» esqueçam «os antes» para nosso gozo.
Esses fósseis que continuem a aguentar dificuldades.
Já estão habituados!
Mas para mostrar quanto somos magnânimos vai esta cláusula:
- Para os que tiveram inspiração quase profética e vieram embora tardiamente para a Banca
- Oferecer-lhes contagem de tempo não prestado, embora, à causa, mas prestado ao Estado... Para efeitos de reforma especial.
- Brindemos esses novos colegas contando-lhe mais Dez... Vinte e vai: centésima trigésima nona (A “nona” é uma fruta apetecível.).
- E esta cláusula é justa. É sim senhor!
- Quanto aos esquecidos da outra, esquecidos sejam por esta nobilíssima, apoupadissima geração não bancária.
Assim seja e se faça para que aprendam de futuro a não ter arreganhos, vaidade!
Lisboa, 1983 – Memórias de um bancário!...
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Revolução.
Revolução
Era uma vez uma nação
Que prosperava a olhos vistos!
Veio depois uma Revolução
Com partidos ditos mistos.
Com ordens mais que insensatas
Ficaram cegos e assanhados
Tornaram-se assim “vira-latas”
Sob a capa de iluminados!
Preguiçosos por natureza
Fizeram provisoriamente
Com definitiva esperteza
Descolonizar muita gente
Moveram-se Armadas Forças
Que outros desarmaram por bem...
Apressados como corças
Numa Homérica retornagem
Nasceu uma onda furiosa
E que – quais ginetes sem freios –
Formaram corrente chulosa
Ocupando os bens alheios...!
Os feitores de golpe estatal
Esfregaram as níveas mãos
E no seu foro intestinal
Sorriam... Bons cidadãos!
É tão fácil destruir tanto
Que nem vale a pena dar tempo
Valores de irmãos, entretanto...
É apenas um contratempo!
Mas isso de sentimentalões
Estrangeiros hão-de resolver
Com uma ponte de aviões
Para cá alguns vão trazer...
Salvam-se assim as aparências
De que tudo se faz e bem
Sem ser preciso competências
Abandonar é que convém!
Para a sonhada sociedade
Que nasceria de sintético
Parto-sem-dor... Calamidade!
Adveio aborto mui tétrico.
Tudo em nome do “nosso povo”
Bode expiatório propício
Ao excentrismo de Moscovo
Por seu “líder”, por seu Fenício.
Os rubros cravos suavizantes
Emurcheceram bem depressa
Devido aos bafos escaldantes
Para ser cumprida a promessa.
Termino esta sucinta história
Esperando que bom-senso
Ganhe com lucros a vitória,
Pois o sofrimento é intenso.
(Calmatites)
Lisboa, Janeiro de 1976.
terça-feira, 31 de julho de 2007
JUSTIÇA SOCIAL
JUSTIÇA SOCIAL…
Só como introdução, sem tentar dar a imagem de descrição de um drama, começo por dizer que em 18 de Abril de 2005 fiquei sem o meu marido vítima de sepsia adquirida em internamento na Unidade de Queimados do Hospital de Santa Maria. Sou professora do Quadro de Escola desde 1988, por isso mesmo funcionária do Estado Português. No final de 2006 foi-me solicitado preencher um documento para actualização de dados, em que, como é lógico, tive de alterar o meu estado civil de casada para viúva. Em resultado dessa actualização de dados passei a pagar, em 2007, mais 130 Euros por mês para o desconto do IRS, pois solteiros, divorciados e viúvos encontram-se no mesmo escalão do IRS e descontam mais do que os casados. Sinceramente, não percebo a lógica da situação fiscal. Senti-me como se estivesse a ser castigada pelo facto de ter ficado viúva. Como se houvesse possibilidade de escolha!!!
Enfim, surge a altura em que declaramos rendimentos e despesas às Finanças e, como consequência vou ter que pagar ao Fisco, para além de todos os descontos e despesas de 2006, mais 900 Euros, porque em 2006 o meu patrão não actualizou dados e não me foram descontados os tais 130 Euros por mês para o IRS.
Senhor Primeiro Ministro, Senhor Ministro das Finanças, Senhora Ministra da Educação: estão a divertir-se à custa de quem trabalha e tem a infelicidade de perder o cônjuge?
Porque é que os viúvos, na função pública, são tratados como se tivesse sido escolha sua a perda que sofreram?
Isto é justiça social?
Já para não falar do facto de os Atestados Médicos que me vi obrigada, por motivos de saúde óbvios, a utilizar após o falecimento do meu marido me terem penalizado no concurso para Professora Titular pois, as faltas dadas por doença, foram pontuadas negativamente. Toda esta situação não se compadece com o facto, de todos sabido, dos congelamentos na progressão na Carreira e da consequente perda de poder de compra.
Ao chegar a este momento dei comigo a pensar que é pena não possuir a veia poética do meu Pai para ser capaz de ironizar. Resolvi então procurar nos seus escritos algo que se pudesse adaptar e encontrei…
Nunca mais
Volvidos trinta e tal anos de andanças
Pela Banca não rota ainda do País
Ousei esquecer créditos por livranças
E outros mais que são da causa raiz.
Embora possam julgar ser lívida
Esta peroração assonetada
Vejam quão substancial é a dívida
Que talvez nunca mais será saldada.
Por isso é que nem com cheques cobertos
Letras a curto prazo e descontadas
Créditos ordenados ou abertos
Jamais poderão vir a ser saciadas
As “parti-ganâncias” qu’andam por’i
Corneto p’ra mim – corneto p’ra ti.
(H. F.)
Sem data
segunda-feira, 25 de junho de 2007
Programa “Música e não só” da Rádio Renascença
Postal
Sentei-me à mesa do Bar
Com este postal à frente
P’ró Santo António ditar
O que quer dele esta gente
Santo António pensativo
Fez-me a sua confidência:
Nada é mais cansativo
Qu’uma injusta exigência.
Santo António é assim.
Prometeu para mui breve
Um suculento festim
Prós maquinistas em greve!
24 de Junho de 1981
Honorato Gonçalves Henriques de Freitas
sexta-feira, 1 de junho de 2007
Para ti Amália

Para ti Amália
Uma torrente amena
De saudade m’invade
É por causa da melena
Que não tenho vaidade
Amália não t’abatas
Não vergues o teu dorso
A vida e voz sem datas
Serão d’Amália sem esforço
O valor desta escrita
Só o será cantado
Por sua voz infinita
De som nunca igualado.
Aceite deste anónimo
Admirador que é teu
E se isto é sinónimo
D’amor – eu sou Romeu!
(Calmatites)
quinta-feira, 10 de maio de 2007
O MEU FADO

para Coimbra.
Coimbra cantou e com virilidade
A sua castiça canção – o fado.
Fê-lo com toda a verticalidade
E com o melhor que se tem marcado.
Coimbra não vai, ao sabor da voga.
Coimbra não quer parecer, quer sê-lo
Consciente quando quer e se arroga –
Canto sério, viril, sabe fazê-lo!
As assobiadelas e as vaiadas
Nada puderam contra a seriedade
Firmeza e beleza das ‘baladas’
Entoadas com brilho e à-vontade!
E as guitarradas, senhores, que timbres!
Que divinais acordes nos beijaram
Aquelas notas que soaram tão firmes,
Com que empolgamento as dedilharam!
Não fiquem por aí – sois a Nação
Equilíbrio num porvir tenebroso
Cintilar do farol ao Guia ansioso!
Continuai a ser uma lição!
(Calmatites)
Lisboa, Junho de 1978.
O DILÚVIO
Reza a Bíblia que Deus inspirou o Patriarca Noé para construir a Arca que salvaria e mesmo salvou os casais de animais que iam constituir a sobrevivência das espécies diversas quando acontecesse o Grande Dilúvio! E assim fez e procurou as dispersas alimárias e calafetou o “tugúrio” que durante noites e dias intermináveis foi morada ultra-social neste planeta. Mas o que foi o dilúvio...? O resultado do mais potente, majestoso estrondo jamais acontecido no globo terráqueo e de que a formação rochosa da serra da Chela, rica de urânio, foi causadora, manipulada por uma civilização que não deixou rasto...No local.
A explosão atómica feita sem a técnica actual deu-se quando os continentes actuais eram apenas, massas continentais e mais ou menos unidas. E aconteceu, numa imensa região que se formou sob montanhas tão elevadas como as suas antípodas do Nepal e do Everest e, oferecia aparente segurança a homens e animais e estendia-se por uma área vastíssima desde a Umbia ao Brusco e resultado de muitos anos de erosão – a formação de estalactites. Os laboratórios de energia nuclear situavam-se mais ou menos ao centro daquela clareira que admirávamos quando visitávamos a Tundavala. Ninguém pensaria que naquela baixa, tinham existido milhões de toneladas geológicas com alturas que variavam entre os 5 e os
A explosão aconteceu aí e a sua potência superou as de hidrogénio, precisamente porque os “químicos” desse tempo não souberam controlar a potência da mesma. Foi de tal ordem que além do seu expansionismo, causou um enorme vácuo que suspendeu na área da atracção-nula, milhões de litros de vapor de água de mistura com grandiosas massas sólidas – a crosta sólida da terra em que se incluía a Atlântida foi arreganhada com fúria, a parte mais plana foi rebatida e invadida pelas salsas ondas de outras zonas – fazendo surgir elevações e desaparecer outras! E naquele vácuo fantástico andou a Ilha de Páscoa que uma civilização paralela, mas de outra índole, construiria sobre a montanha mais alta da Chela! E nesse passeio fantástico andaram homens e animais, qual imenso remoinho, mais tarde semeados em vários outros pontos da terra, onde por força de exigência de adaptação e de sobrevivência tomaram hábitos e até pigmentação e formas diferentes...!
Ora, se me acompanharam nesta descrição apressada do que foi a mais violenta reação química de todos os tempos na terra, não vos será difícil concluir que o dilúvio aconteceu mesmo, porque toda a atmosfera/estratosfera estava saturada de gotas de água em suspensão durante (40 dias e 40 noites) muito tempo.
Daí o facto notório de os continentes se encontrarem mais concentrados no hemisfério norte e mais dispersos no sul – devido à força centrífuga afastaram-se, dividiram-se, com tendência para se comprimirem no hemisfério norte.
A submersão da Atlântida pode explicar-se por uma implosão – contraste ou rebaixamento consequente...!
Calmatites (texto sem data).
sexta-feira, 4 de maio de 2007
Calmatites

Tentativa
Tentativa
Ah como desejava vencer aquele medo!
Aquela covardia de lhe confessar
Com naturalidade o meu grande segredo!
Hoje, vou esperá-la, fazer-me encontrado.
E lanço um – Viva! Bons olhos a vejam flor!
...E ela veio, olhou-me e eu espantado,
Deixei-a passar acometido de torpor.
Ah! Com mil bombas a deflagrar de hidrogénio
Isto já ia no décimo quinto dia
O sangue borbulhava, a alma esfrangalhava...
De nada servia aquele rasgo de génio
Que na intimidade se me acudia
Divinizadas frases qu’ela m’inspirava.
Calmatites (soneto sem data)
sexta-feira, 27 de abril de 2007
FUTEBOL AMIGÁVEL
FUTEBOL AMIGÁVEL
Relato os pontapés e os furos Que se deram e fizeram entre si Os vinte e tal “soltos” e “atados” duros No campo oficial do Victória Daqui. Foi no histórico – a partir d’agora Pretérito desde ontem de Dezembro Falecido Domingo que já hoje se chora Pelas quinze e vinte horas, como lembro. O feito assinala-se: Ausência de chuva Algumas nuvens no firmamento Porém a expectativa não se turva E em campo se vê um ou outro elemento De repente soa um silvo cristalino Vinte e cinco rostos pensativos Se postam em sentido repentino Outro silvo e eis todos activos Há fotos e troca de impressões Bem como incertos arremessos Não há vaticínios, não tiram conclusões. Correndo o esférico pelos toques impressos. O capitão do team dos casados Recebe de gentil senhorinha Um ramo envolto nos frizados De suculenta folha de couve “tronchinha” Audazes e valentes os adversários Postos em movimento, logo se aferram. Ao jogo quais antigos corsários Em assalto destemido, a bola enterram No campo alheio em duro castigo Procurando atravessar os fundos do inimigo. VII Pois quarto tento de Bentubo Lima Faz que na primeira parte ganhe A equipa dos casados – por cima E uma salva de palmas ainda apanhe Como corôa de merecidos feitos Fazendo “alevantar” os magros peitos. VIII Mereceram honras de comportamento Pela actividade desenvolvida Doutor Ferreira, Capitão Ribeiro, Sargento, Cujo nome de Matos lhe dá vida E outros heróis mal conhecidos Dos assistentes pouco sabidos. IX Outros portentos foram e actuaram Com brilho, denodo e bravura Almeida e Brandão como notaram E também Arruda, estiveram à altura Do rijo combate disputado Naquele campo semi-relvado. X Os últimos quarenta e cinco minutos Foram de mais brilho para a solteirada Que não tendo visto da luta os frutos Voltavam à lide bastante desanimada. Os êxitos dão aquela doce leveza Que fez os casados deixar a defesa. | I Assim avultam em fervor combativo Alexandrino, Domingues e Sargento, Dianteiros casados de antigo cultivo Que ao redondo deram bom andamento Coadjuvados pelos médios Ferreiras, Ribeiro, Pedro Gomes, outras barreiras. II Corte Real em veloz retardador intercepta Ataques não menos velozes de Ceguinho, Portocarrero e José Luiz, qual asceta Conjurando males do Zé-Povinho Garantindo assim a integridade Do reduto à sua responsabilidade. III Numa arrancada de peso bem medido Tenente Correia mete o primeiro tento Cunha defesa dos Solteiros batido - mas não convencido, fica bem atento. Porém contra ingentes investidas sofridas Não há fraquezas que não sejam consentidas. IV Dos Casados o guardião rejubila Por seguro se sentir no posto seu E não pensa que a Bola – qual Sibila Tentadora – a todo o Poder cedeu E mais confiante se mostra o “Fino” Quando outro golo marcou Alexandrino. V Amarelos sorrisos desfecham os solteiros Quando Alferes Ferreira outra bola metera Pedro Gomes cede a vez que tivera A alguém cujo nome não nos ocorre E redobra de alma a peleja que decorre. VI E então entram novos valores Que mantém dos casados o prestígio Bem como dos solteiros os rubores Pelo desaire que lhes dá o litígio Se bem que não é caso de foguetear Os casados começam a alardear. XI Por quatro golos já ganhavam Os casados de justiça havida Contra zero que ainda marcavam Os solteiros – Ah! Pai da vida! Quando se deu violenta reação Por discutido “córner” em marcação. XII Foi tal o abuso de confiança Que segundo tento foi nascido Dum penalty, sem esperança Duma mão-madrasta parido E apesar do quinto furo marcado O team solteiro empatou com o casado. XIII Aos não cantados directamente Como bom amigo aconselho bem Que nunca se entristeça a gente Com as alegrias dos Ninguém Basta para não ficar entristecido Lembrar-se do Soldado Desconhecido. Silva Porto, 15/12/1958. H. de Freitas (Relator contratado verbalmente) |
terça-feira, 17 de abril de 2007
Memórias de um Bancário
(Os personagens são fictícios, embora, os factos sejam reais. Abrange os anos lectivos de 1935/1936 até 1938/1939).
Para mim e para todos os ferrugentos, nados e criados em Angola, o achar um emprego, era uma autêntica fortuna. Um rebuçado que poucos tinham a sorte de chupar.
E, ir além da 4ª classe primária, até aos anos de 1940, era obra para gigantes das classes humildes – trabalhadores braçais, agricultores –. Ou eram isso mesmo ou não eram nada.
Embora me esteja a cingir a factos que decorreram nas Colónias Portuguesas, devo, em abono de elementar justiça, informar os possíveis leitores de que a distinção de classes e o apuramento de elites sociais, não eram coisa peculiar dos portugueses. Tratava-se sim dum imperativo das “consciências da época”. Era assim em Portugal e era também na Suécia, etc. etc.
Até àquele ano longínquo 1935, mercê de homens ilustrados idos para a Huíla (Lubango) e até residentes, civis e militares – patriotas ardentes e dedicados, até ao sacrifício das mais caras regalias, começaram a despontar Escolas Primárias, de Artes e Ofícios e até Escola Primária Superior, oficialmente criadas e dotadas. As Artes e Ofícios (também chamadas laicas) destinavam-se, essencialmente, à instrução e aprendizagem de ofícios de arte comum: alfaiates, carpinteiros, serralheiros, mecânicos, etc., para órfãos e para todos os naturais que o desejassem sem quaisquer encargos para as suas bolsas.
Estas escolas laicas estavam providas de docentes excepcionalmente conhecedores e dedicados. Ensinavam quanto podiam e sabiam. E muitos milhares de operários negros e chefes de oficina delas saíram e se lançaram com êxito na vida. Porém, as Missões Católicas, também prepararam centenas e centenas, porque a sua acção vinha já de dezenas de anos antes e com vantagem, visto ministrarem conjuntamente a Religião.
As Missões laicas ou Escolas laicas foram uma tentativa para substituírem as Missões Religiosas que, entretanto, começaram a ser, também, Protestantes - Evangélicas, Adventistas e Sabatistas.
Apesar da existência da Igreja Católica ser mais antiga e, embora o ecumenismo não fosse coisa prevista, é de realçar o civismo que caracterizou ao longo de tantos anos a coexistência pacífica das seitas religiosas... naquele ultramar...
A acção missionária era heroicamente trabalhosa e poucos portugueses, mesmo os de lá, se aperceberam disso. Há santos que talvez nunca sejam canonizados, que morreram devido a terem ido, tão cheios de espírito de entrega que, desde que chegaram, nunca mais deram uma única hora de descanso ao corpo.
Pessoalmente, conheci um, de nacionalidade francesa, Padre Florêncio. Com pouco mais de 23 anos lançou-se através das montanhas da Chela, às senzalas mais recônditas, arrastando as vestes paramentais e o viático sobre uma bicicleta, passando longos dias e noites sem regressar à Missão. Tentava abarcar e ganhar todas as almas ao mesmo tempo dos Muilas e dos Mucubais. Não resistiu a tanto fogo interior e lá ficou no cemitério da Missão. Para muitos terá sido um simples vulto que perpassou. Para mim foi um exemplo de humildade e de entrega impressionante, indelével. Sem que para isso tenha feito qualquer esforço, influenciou-me a pontos de lhe dever a possibilidade de estar a trazer à luz toda a minha obscura existência de profissional, pois aos 12 anos, depois do exame de admissão, pedi permissão ao meu Pai para ir aprender uma profissão e, como as possibilidades paternas eram muito anémicas e a Missão Católica do Tchivinguiro possuía, para os filhos dos negros da região, oficinas de aprendizagem de alfaiataria, sapataria, serralharia eu iria escolher e trabalhar numa delas. Foi então, que o bom Padre Florêncio me emprestou um livro para eu ler. Li-o em uma semana. Era volumoso. Quando lho devolvi e lhe referi algumas passagens do mesmo, disse-me apenas: “Vais continuar a estudar”.
Fui então transferido para a Missão da Huíla e até comecei a freqüentar, já por conta da Missão, uma Escola Preparatória para o Ensino Secundário. Já com 14 anos de idade fui submetido a provas e passei para o 3º ano com uma boa classificação em Latim, História e Português. Mas este estabelecimento não dava equivalência ao Ensino Oficial.
Entretanto, a fuga da Missão de dois alunos e o isolamento dos restantes, incluindo-me, modificou o curso da minha vida...
(O relato fica por aqui e deve ter sido escrito já nos anos oitenta).
domingo, 15 de abril de 2007
Um Natal dos Anos 25

Quando a seca acontece e, infelizmente, é um facto periódico, cíclico, mas sem datas certas, é que o verde matizado com algumas flores de côr rósea e branca, se torna menos verde, mas não menos agradável! E, em alternativa daquilo que falta ao campo e à floresta, em muitas casas surgem searas miniaturais em pequenos vasos – tijolos ou malgas de barro – com um viço próprio.
Naquele dia de férias, de felicidade e de esperança, o sol nasceu radioso e foi subindo num céu excepcionalmente límpido, puro, com uma profundidade azulínea que prendia!
Cerca do meio-dia, uma sombra leve emerge lá longe do poente e começa a multiplicar-se, a expandir-se, a engrossar com uma rapidez inaudita. Em poucos minutos o tecto celestial baixou e fez escurecer crescentemente o ambiente! De repente, raios de luz vivíssima cortaram a negritude das nuvens que evoluíam, enrolando-se, distendendo-se silenciosa, mas assustadoramente! A trovoada que, primeiro se ouvia ao longe, rebentava, agora, sobre as nossas cabeças como se fossem canhões de grosso calibre!
Aterrados, os miúdos, rodeamos a nossa Mãe, também muito apreensiva com aquela ameaça real. – Vão para cima da cama, disse minha Mãe, - e cobriu-nos até meio corpo com um cobertor de papa – e rezem!... Por esta altura, ninguém se podia fazer ouvir, tal o banzé que a chuva fazia a bater no zinco da casa que era de adobe! Ruído aumentado cada vez que sucedia uma rajada de vento! Eram autênticas pedradas e só se percebia que trovejava por, de vez em quando, estremecer a casa e o chão...
“Após a tempestade vem a bonança”
Este temporal durou cerca de meia hora! Ainda atordoados, corremos para o terreiro. Um som surdo e suave descia pela encosta do monte sobranceiro à casa e o característico som de água corrente pelos socalcos de terreno dava-nos a impressão de tudo estar a descontrair-se!
Mas o espectáculo mais impressionante desenhava-se por todo o lado e, mais saliente em volta da nossa velha e resistente casa do campo – O Tchaiombo. ([1]) Montes e montes de gelo envolviam as paredes exteriores, o que explicava as mossas e rombos que o zinco sofreu! Logo começamos a explorar o gáudio que oferecia à nossa irrequieta imaginação aquela dádiva da natureza! Brincamos com um elemento natural até aí desconhecido! Evidente é que já tínhamos conhecimento do que era o granizo. O que nunca tínhamos visto foi em tanta quantidade!
Para a criançada foi uma autêntica festa de Natal como nunca mais tivemos! Porém, o reverso da medalha: o resultado sobre a flora, a fauna e as culturas em geral foi simplesmente aterrador! Árvores de grande porte caídas e arrancadas pelas raízes; outras completamente desfolhadas ou queimadas pelas faíscas, algumas caídas muito perto da casa!... Galinhas que não tiveram tempo de entrar no galinheiro; pombas, rolas e coelhos adultos e muitos outros animais domésticos, morreram!
Felizmente, não houve casos mortais entre nós e a população indígena que vivia a pouca distância. Procuramos saber de todos e, a não ser o aspecto acinzentado com que nos aparecia um ou outro menos conformado com o acontecido, estavam todos de boa saúde.
Não ornávamos árvores, nem tínhamos iluminação eléctrica, nem brinquedos sofisticados como hoje existem! Apenas um modesto presépio com as figuras essenciais e presentes ao sabor das habilidades de cada um, artesanais. O resto dos enfeites eram vasinhos com trigo, milho, centeio e frutas do tempo.
Honorato Gonçalves Henriques de Freitas
Lisboa, 21/11/1990.
[1] Casa grande, no dialecto da Huíla.
sexta-feira, 13 de abril de 2007
A PERA DA MÃE
Era amarelinha e tinha sido provada
Antes de mim por um insecto gulosíssimo
E embora ninguém soubesse reservada
Para ser da mãezinha manjar finíssimo.
Era uma pêra especial
E quem a comeu logo
Foi o Pai que por sinal
Até ia ficando com gôgo.
...
Honorato Gonçalves Henriques de Freitas
quarta-feira, 11 de abril de 2007
QUERIDOS FILHOS
As dores físicas não são as maiores!
Quem as provoca, por Amor, sofre mais!
Quem perdoa é mais forte, se for sem rancores
E sem recalcamentos incondicionais.
¥
Essas feridas que tendes no peito, duras
Se as considerarem à luz do Amor
Verão nelas, não o opróbrio, mas ternuras
Não umas nódoas: mas uma bela flor.
¥
E se nestes breves momentos da vida,
Não souberem colhê-la... é uma pena!
Deixarão rasgar a ténue teia tecida.
¥
Pela humana condição que nos acena
Frágil, quebradiça e até pervertida
A pontos de uma acção irreflectida.
Lisboa, Julho de 1985.
Honorato Freitas
terça-feira, 10 de abril de 2007
DEDICAÇÃO

sábado, 17 de março de 2007
