terça-feira, 31 de julho de 2007

JUSTIÇA SOCIAL

JUSTIÇA SOCIAL…

Só como introdução, sem tentar dar a imagem de descrição de um drama, começo por dizer que em 18 de Abril de 2005 fiquei sem o meu marido vítima de sepsia adquirida em internamento na Unidade de Queimados do Hospital de Santa Maria. Sou professora do Quadro de Escola desde 1988, por isso mesmo funcionária do Estado Português. No final de 2006 foi-me solicitado preencher um documento para actualização de dados, em que, como é lógico, tive de alterar o meu estado civil de casada para viúva. Em resultado dessa actualização de dados passei a pagar, em 2007, mais 130 Euros por mês para o desconto do IRS, pois solteiros, divorciados e viúvos encontram-se no mesmo escalão do IRS e descontam mais do que os casados. Sinceramente, não percebo a lógica da situação fiscal. Senti-me como se estivesse a ser castigada pelo facto de ter ficado viúva. Como se houvesse possibilidade de escolha!!!

Enfim, surge a altura em que declaramos rendimentos e despesas às Finanças e, como consequência vou ter que pagar ao Fisco, para além de todos os descontos e despesas de 2006, mais 900 Euros, porque em 2006 o meu patrão não actualizou dados e não me foram descontados os tais 130 Euros por mês para o IRS.

Senhor Primeiro Ministro, Senhor Ministro das Finanças, Senhora Ministra da Educação: estão a divertir-se à custa de quem trabalha e tem a infelicidade de perder o cônjuge?

Porque é que os viúvos, na função pública, são tratados como se tivesse sido escolha sua a perda que sofreram?

Isto é justiça social?

Já para não falar do facto de os Atestados Médicos que me vi obrigada, por motivos de saúde óbvios, a utilizar após o falecimento do meu marido me terem penalizado no concurso para Professora Titular pois, as faltas dadas por doença, foram pontuadas negativamente. Toda esta situação não se compadece com o facto, de todos sabido, dos congelamentos na progressão na Carreira e da consequente perda de poder de compra.

Ao chegar a este momento dei comigo a pensar que é pena não possuir a veia poética do meu Pai para ser capaz de ironizar. Resolvi então procurar nos seus escritos algo que se pudesse adaptar e encontrei…

Nunca mais

Volvidos trinta e tal anos de andanças

Pela Banca não rota ainda do País

Ousei esquecer créditos por livranças

E outros mais que são da causa raiz.

Embora possam julgar ser lívida

Esta peroração assonetada

Vejam quão substancial é a dívida

Que talvez nunca mais será saldada.

Por isso é que nem com cheques cobertos

Letras a curto prazo e descontadas

Créditos ordenados ou abertos

Jamais poderão vir a ser saciadas

As “parti-ganâncias” qu’andam por’i

Corneto p’ra mim – corneto p’ra ti.

(H. F.)

Sem data