Revolução
Era uma vez uma nação
Que prosperava a olhos vistos!
Veio depois uma Revolução
Com partidos ditos mistos.
Com ordens mais que insensatas
Ficaram cegos e assanhados
Tornaram-se assim “vira-latas”
Sob a capa de iluminados!
Preguiçosos por natureza
Fizeram provisoriamente
Com definitiva esperteza
Descolonizar muita gente
Moveram-se Armadas Forças
Que outros desarmaram por bem...
Apressados como corças
Numa Homérica retornagem
Nasceu uma onda furiosa
E que – quais ginetes sem freios –
Formaram corrente chulosa
Ocupando os bens alheios...!
Os feitores de golpe estatal
Esfregaram as níveas mãos
E no seu foro intestinal
Sorriam... Bons cidadãos!
É tão fácil destruir tanto
Que nem vale a pena dar tempo
Valores de irmãos, entretanto...
É apenas um contratempo!
Mas isso de sentimentalões
Estrangeiros hão-de resolver
Com uma ponte de aviões
Para cá alguns vão trazer...
Salvam-se assim as aparências
De que tudo se faz e bem
Sem ser preciso competências
Abandonar é que convém!
Para a sonhada sociedade
Que nasceria de sintético
Parto-sem-dor... Calamidade!
Adveio aborto mui tétrico.
Tudo em nome do “nosso povo”
Bode expiatório propício
Ao excentrismo de Moscovo
Por seu “líder”, por seu Fenício.
Os rubros cravos suavizantes
Emurcheceram bem depressa
Devido aos bafos escaldantes
Para ser cumprida a promessa.
Termino esta sucinta história
Esperando que bom-senso
Ganhe com lucros a vitória,
Pois o sofrimento é intenso.
(Calmatites)
Lisboa, Janeiro de 1976.