quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Revolução.

Este poema revela o desconsolo de quem viu os ideais traídos. Leiam sem preconceitos e sem ilacções.

Revolução

Era uma vez uma nação

Que prosperava a olhos vistos!

Veio depois uma Revolução

Com partidos ditos mistos.

Com ordens mais que insensatas

Ficaram cegos e assanhados

Tornaram-se assim “vira-latas”

Sob a capa de iluminados!

Preguiçosos por natureza

Fizeram provisoriamente

Com definitiva esperteza

Descolonizar muita gente

Moveram-se Armadas Forças

Que outros desarmaram por bem...

Apressados como corças

Numa Homérica retornagem

Nasceu uma onda furiosa

E que – quais ginetes sem freios –

Formaram corrente chulosa

Ocupando os bens alheios...!

Os feitores de golpe estatal

Esfregaram as níveas mãos

E no seu foro intestinal

Sorriam... Bons cidadãos!

É tão fácil destruir tanto

Que nem vale a pena dar tempo

Valores de irmãos, entretanto...

É apenas um contratempo!

Mas isso de sentimentalões

Estrangeiros hão-de resolver

Com uma ponte de aviões

Para cá alguns vão trazer...

Salvam-se assim as aparências

De que tudo se faz e bem

Sem ser preciso competências

Abandonar é que convém!

Para a sonhada sociedade

Que nasceria de sintético

Parto-sem-dor... Calamidade!

Adveio aborto mui tétrico.

Tudo em nome do “nosso povo”

Bode expiatório propício

Ao excentrismo de Moscovo

Por seu “líder”, por seu Fenício.

Os rubros cravos suavizantes

Emurcheceram bem depressa

Devido aos bafos escaldantes

Para ser cumprida a promessa.

Termino esta sucinta história

Esperando que bom-senso

Ganhe com lucros a vitória,

Pois o sofrimento é intenso.

(Calmatites)

Lisboa, Janeiro de 1976.